sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Grande Merda

Sério? Ah, fico feliz por isso, obrigado mesmo.
Pra falar bem a verdade eu já estou virando mestre em estampar essa minha cara de vendedor de tapetes e sorrir e agradecer. Dessa vez foi uma amiga do colégio que eu reencontrei no caminho da locadora (obviamente quem estava indo lá era eu, ela provavelmente tem uma vida). Disse que estou bem mais bonito e pareço, assim, não sabe bem explicar mais é uma coisa boa. Minha vontade foi nem responder, abrir a carteira e indicar um oftalmologista (sempre carrego um cartão para essas ocasiões que, sinceramente, eu não sou obrigado). Mas não o fiz, porque apesar de tudo ainda sou um filhinho da mamãe e educação é primordial pra ser uma cara legal. Não deu certo comigo, mãe. Coitada, devo estar a julgando mal, ela não deve ser lá aquela míope tipo a dona Bete do 37 e só quis me agradar. As vezes, essa minha amiga se evoluiu espiritualmente e consegue enxergar um futuro daqueles bem longínquos. Idiota. Eu. Não ela. Ela só não conseguiu perceber os  meus olhos fundos refletindo o vazio na alma que estou carregando, só não percebeu que estava indo a locadora num sábado a tarde e que pelo meu cabelo todo despenteado, eu não teria companhia pra ver os tais filmes. E que eu estava falando sozinho quando ela me abordou. Ela só não percebeu que eu ando por aí invisível e no máximo agradeço pelo elogio de alguma bem-feitoria que eu tenha feito. Grande merda. Ela só viu, ou não viu, aquilo que todo mundo, ou ninguém, vê, ou não vê. Entende? Ela é igual todo mundo. Todo mundo.

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