quarta-feira, 29 de maio de 2013

Ano 9: fecham os ciclos

      Crio novas formas de compor isso que chamei de nossa história. E tijolo a tijolo, vou tirando um a um dessa estrutura fraca a qual, até hoje, acreditava sustentar algo. Fecho as cortinas, cubro os móveis com lençóis brancos de tentativa-perdão. Lavo as louças e as embalo em plástico-bolha-paciência. Encaixoto as fotos e enfeites etiquetando "esquecer". Desço os quadros das lembranças, viro-os pra parede e cogito doar aos pobres. Faço, portanto, as malas com um pouco - confesso - de lágrimas. E vejo o último pôr-do-sol da nossa janela. Dou um suspiro-fôlego e, também, as costas. Permito-me não dar aquela última olhada no apartamento e tranco a porta às chaves dando duas voltas para garantir o não-retorno. Jogo a chave no bueiro para que os ratos levem.
      Com o apartamento, penso bastante sobre o que fazer: descarto o aluguel por não querer nenhum contato que me ligue a ele. Nem vendo, porque não acredito que haja possível lucro dessa história. Portanto, anuncio:
                 " Doo apartamento sem chave e sem saudade. Como pré-requisito só é preciso coragem para habitá-lo. Um pouco de idiotice contribui para longa estadia."
                   Situado à Rua do Tempo Perdido, número 6.

Melodia

Faz-se uma, duas,
catorze perguntas a si.
Chove frio e seco
em cima de uma guarda-chuva.
Cantam pingos de saudades
nos metais solitários dos prédios.
Um senhora sorri da janela.
E a velhice parece esperar na esquina.
A luz amarela da rua
parece desistir dessa noite.
E, passo a passo, caminha o garoto
tentando encontrar seu destino.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Dos olhares

Da janela vejo livros e manuais, reflexões e críticas de uma sociedade engraçada. Vejo, também, um belo par de olhos verdes sorrindo em uma conversa que não posso ouvir a voz. Penso nos belos encontros e desacasos possíveis de uma vida à um. Cogito companhia. Enquanto descanso no degrau da escada, cruzo os braços e abraço o coração para ouvir resposta: Faz silêncio. O jeito é esperar, ali mesmo, no meio da escada...

Musiquinha

No meio da noite me pego
sorrindo sozinho,
com um certo arrepio.
Depois de inteiro dia
chorando sozinho,
sentindo um frio.
Escrevo pra nós uma história,
uma estrada bem pequena,
onde só dará no futuro que sonhei.
Fecho os olhos e vejo
uma dor bem pequena
que ficou lá no passado que abandonei.
Essa a música que eu escrevi pra você
pra dizer da nossa história, nossa vida
que pode começar, se você disser que sim.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Domingos sempre são e sempre serão solitários. Ao som da chuva lá fora, da onda que quebra ali no quintal, do soul que sussurra no quarto, do samba que espia de longe. Domingos são dias que se ouve a si, e dói. Dói um choro. Dói o choro da solitude.
Sinto o corpo se contrair pra tentar abraçar o coração que se arrasta e quase se faz pó. São todos os músculos se remexendo pra que nada desmorone, que não falte o impulso que mantém tudo que pé, que erga o sorriso e agradeça. Ah, no contrair-se não sobram espaços para as lágrimas antes quietas. Dói a perda do que não existe e sai depressa sem pedir seu espaço. Não cabe aos olhos de tão triste uma falsa história acabar.
E a noite se encarrega de ouvir o choro, quieto, triste, censurado e não perdoado. E nem seu abraço parece suficiente. Na praia os grãos de areia não contam número maior que o tempo perdido, que o que foi mentido. Ah, peço desculpas. Choro triste até o sol nascer, quem sabe o triste sol se pôs aqui e nasce um novo amanhã. Quem sabe....

domingo, 26 de maio de 2013

LágrIMÃ

Consigo olhar no fundo dos seus olhos e ver um mundo sem fim.
Quando é você que me olha nos olhos, meu mundo quase não cabe em mim.
E sejam eles como estiverem, arregalados, preguiçosos ou chorosos,
sinto, aqui na alma, que você precisa de mim.
E, tento, pobre inocente, fazer um mundo novo pra ti,
que é pra e ver sorrir, assim, toda contente.
Sei, ainda, que enquanto desce sal nos olhos de jabuticaba,
derrama em ti um coração doente,
e me pego todo atarefado tentando catar os cacos e fazê-lo sol poente.
Garanto que cada lágrima tua, não me afasta nem me cansa,
mas me atrai para te encontrar.
E atrai, e atrai... que você, mesmo resistente, não vai conseguir fazer com que eu não esteja presente.
Amor é estranho, esquisito, até um pouco doente
Mas é a mola que impulsiona a louca vida da gente.
Saudemos o amor.
Toda forma de amor,
até a mais inconsequente.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

(a)mar adentro

Eu não vou escrever sobre falta.
Nem saudades ou confusões.
Porque você não as traz.
Vou falar sobre encanto,
alegria e seduções.
Porque você me refaz.

Friends

Posso dizer que nossa frequência é inata. Parece que nossos ventos sopram pro mesmo lugar. Nossos corações encaixam feito tetris e nossa alegria superabunda nas conversas. E nada será mais familiar que nossos encontros, mesmo que tão longe do colo estejamos. E nossas risadas suprirão saudades, e nossos abraços abrirão futuros. Nossos encontros reinarão belezas de nossas vidas cheias de lindas incertezas. É que nossa roda, ali fazendo sombra na areia, não se interpreta nas palavras, mas talvez violão. Cabe a nós, suspiros-sorrisos. Até a lua, curiosa, se deita pelo mar pra tentar participar do que ali se concretiza: são simples e bons corações que se abraçam feito ursos e enfeitam feito flores. Nós somos aquilo que Deus pensou quando inventava o que seria a amizade.

sábado, 18 de maio de 2013

Estrada

Eu não tenho muito o que falar. Ou não tenho muita coragem pra interpretar.
Encosto minha cabeça, fecho os olhos e tento encontrar certeza.
Que é pra não continuar desse jeito e também continuar assim, contigo.
E imaginar o motivo de colocarem uma estrada entre eu e você e, por isso, a viagem doer.
Viajar pode ser lindo, sim, e será. Mas dói, dói o corpo, a cabeça... que é motivo da saudade
Saudade de se encontrar... me encontrar em você.