quarta-feira, 27 de junho de 2012

a-mar

             Será que você já se sentou no muro que separa o mar da estrada? Será que você já percebeu as pedras que o sustentam? Será que você já dedicou seu dia para ouvir o que elas tem a dizer? Será que você já ouviu o que elas contam sobre o mar?
              Talvez você já conheça a dádiva desse costume e, com toda a certeza, o valoriza. Porém, mesmo assim, quero conduzi-la a isso hoje, mesmo estando longe do mar, mesmo não podendo o ver com os olhos físicos.  Para isso, hoje, me faço pedra e lhe conto sobre o mar que me faz outro, constantemente.

              Minha história como pedra começa sustentando o muro, somente. Firme, estático, forte, importante, essencial. Assim vivia como pedra, cumprindo meu papel: sendo estrutura. Até que um dia a terra baixou, e o mar entrou. E assim o conheci.
             Talvez você pense que todo meu amor ao mar se deve ao um encontro quando ele, a noite, trazia a lua sobre a pele, e eu exibia meu perfume do sereno. E então, a partir dessas circunstancias, o romance se torna óbvio e nosso contato um encaixe. Entretanto, assim não foi.
             Você muito já deve ter ouvido sobre o mar e sobre tudo que ele é, mas nada é o mar, se você não o sente. Meus primeiros encontros com o mar não foram, de todo, amenos e românticos pois, ele, apesar de forte como eu, é instável e grande e expressivo e veloz. E por toda sua imensidão, muitas vezes, me invadiu, me cobriu, me bateu e me gastou: e como tudo que é diferente, incomodou e me levou a querer evitar.
            Até que descobri e pude sentir, agora sem dor, que em todo o processo de me cobrir,e bater e gastar, o mar me esculpia, pouco a pouco, diariamente, e me esculturava, me tornava belo e atraente. E então, assim, eu atraia o sorriso dos outros. Ah, apesar de toda diferença e invasão eu me apaixonei pelo mar, em toda a infinitude que ele me trás. E agora, sendo constantemente esculpido, fiquei mais sensível a todo aquele afeto que ele trazia atras do rústico do seu vir. E então, o contemplo quando ele trás o sol a me acordar, ou quando reflete a lua pra que eu não tema a noite.
          Não tenho como comparar o valor de conhecer o mar, mas tento agradecer contando a todos que param um pouco pra me ouvir. O barulho que faço quando o mar bate em mim, todos os dias, todas as horas, é uma comemoração por estar sendo moldado e cuidado por ele, sem nenhum descanso.
          Hoje, sou o mar, também. Sou pedra do mar e não me reconheço sem ele. Estou enraizado por ele e ninguém me tira daqui do seu lado. Hoje, sou grato a toda a natureza por esse encontro e parabenizo à ela por essa magia que nos envolveu.
        Ao mar, meu eterno amor, e a promessa de estar do seu lado entendendo cada reviravolta, cada onda grande, cada ressaca, cada calmaria inexplicada. Minha parceria e minha estrutura, dedico a ele que me fez novo e mais belo.
         

2 comentários:

  1. Que coisa mais linda no muundoooo!!!!
    Encontrar meu som favorito, o do mar nas pedras, por aqui é de começar qualquer dia com todos os pés direitos que existem!!! s2

    ResponderExcluir
  2. "...E então, assim, eu atraia o sorriso dos outros. Ah, apesar de toda diferença e invasão eu me apaixonei pelo mar, em toda a infinitude que ele me trás. E agora, sendo constantemente esculpido, fiquei mais sensível a todo aquele afeto que ele trazia atras do rústico do seu vir. E então, o contemplo quando ele trás o sol a me acordar, ou quando reflete a lua pra que eu não tema a noite." Maravilhoso!!

    ResponderExcluir