Crio novas formas de compor isso que chamei de nossa história. E tijolo a tijolo, vou tirando um a um dessa estrutura fraca a qual, até hoje, acreditava sustentar algo. Fecho as cortinas, cubro os móveis com lençóis brancos de tentativa-perdão. Lavo as louças e as embalo em plástico-bolha-paciência. Encaixoto as fotos e enfeites etiquetando "esquecer". Desço os quadros das lembranças, viro-os pra parede e cogito doar aos pobres. Faço, portanto, as malas com um pouco - confesso - de lágrimas. E vejo o último pôr-do-sol da nossa janela. Dou um suspiro-fôlego e, também, as costas. Permito-me não dar aquela última olhada no apartamento e tranco a porta às chaves dando duas voltas para garantir o não-retorno. Jogo a chave no bueiro para que os ratos levem.
Com o apartamento, penso bastante sobre o que fazer: descarto o aluguel por não querer nenhum contato que me ligue a ele. Nem vendo, porque não acredito que haja possível lucro dessa história. Portanto, anuncio:
" Doo apartamento sem chave e sem saudade. Como pré-requisito só é preciso coragem para habitá-lo. Um pouco de idiotice contribui para longa estadia."
Situado à Rua do Tempo Perdido, número 6.
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