quarta-feira, 5 de março de 2014

Eu to bem, sim

Ela me perguntou se eu ia ficar sozinho, de novo. Digitei sim, com a naturalidade que a pergunta pedia. E ela estranhou, disse que respondi muito depressa, reperguntou se estava tudo bem. E eu disse que sim, de novo. Existe uma vozinha na cabeça das pessoas dizendo a elas de que se você prefere estar sozinho é porque não está na bem, ainda mais em Carnaval. Solidão é companhia da gente mesmo, não é só choro e vela. É também, mas também não é. Solidão é quando você prefere se ouvir, ou ainda não ouvir nada, e sei lá, não precisar falar, entende?
E daí você pensa e repensa. Faz planos pra semana que vem, ensaia conversas importantes e desimportantes. Relembra coisas que estavam lá no fundo da gaveta. E esquecem coisas que estavam espaçosas, fazendo entulho no coração. E eu sinceramente não sei onde é que o cara que disse pra todo mundo que eu conheço que solidão é porque não se está bem. Bobagem!
Solidão é também não pensar, perder a noção do tempo enquanto olha pro teto. E, de repente, você nem está mais vendo o teto. E nem pensando. Eu juro por experiência própria que é possível não pensar. Fazer fotossíntese, faz bem. Nunca vi nenhuma planta mal resolvida - true story. 
A verdade é que todo mundo precisa conviver consigo mesmo mais tempo, pra não exagerar na convivência de quem está bem sozinho. Coloca fone de ouvidos e dá uma geral no guarda roupa, releia textos antigos, faça uma mochila. Leia aquele livro velho que sua mãe te indicou quando você tinha 14. Ah, tire umas fotos dos pássaros que dão uma volta - sozinhos, olha só - pela janela do quarto. E vê a poesia que é a sua vida, feita pra você. Depois você vai ver que vai responder sim, com naturalidade e rapidez de se estranhar. Experimenta.  


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